Unir Vozes para Desarmar Conflitos
Numa escola pública da periferia de Lisboa, o ambiente era, até há pouco tempo, marcado por tensão entre alunos, isolamento de alguns grupos e episódios regulares de provocação — tanto no recreio como online. Em resposta, a direcção decidiu experimentar uma abordagem diferente: em vez de apenas castigar comportamentos negativos, passou a investir em ligações humanas.
Foi assim que nasceu o Coro Infantil da Escola do Bairro Azul — um projecto extracurricular que, em poucos meses, mudou dinâmicas, aproximou alunos e… surpreendentemente, reduziu significativamente os episódios de bullying.
Como o coro ajudou a transformar relações
1. Empatia e cooperação na prática
Cantar em grupo exige escuta mútua, respeito pelos tempos dos outros e sintonia emocional.
Alunos que antes mal se toleravam tiveram de trabalhar juntos — não para competir, mas para criar harmonia. Isto gerou empatia na prática: ouvir a voz do outro tornou-se literal e simbólico.
2. Desenvolvimento socioemocional com ritmo e melodia
O projecto coral foi acompanhado por actividades de expressão emocional através da música.
Antes de cada ensaio, alunos partilhavam como se sentiam — às vezes com palavras, outras vezes com sons ou canções escolhidas. Isso validava as emoções e reduzia tensões acumuladas.
3. Redução do isolamento social
Participar no coro deu voz a alunos mais tímidos ou isolados.
“Antes eu só falava com um amigo. Agora já tenho um grupo”, disse a Carolina, de 10 anos.
A inclusão musical permitiu que crianças de diferentes origens e personalidades se ligassem por afinidades novas.
4. Melhoria do ambiente escolar
Professores e funcionários notaram uma mudança no clima escolar:
– Menos conflitos verbais nos corredores
– Mais interacção entre grupos diferentes
– Diminuição de relatos de cyberbullying
Segundo a direcção, os episódios de bullying identificados formalmente caíram cerca de 40% em seis meses.
O que diz a investigação?
Um estudo internacional publicado em 2020 reforça os resultados desta escola:
– Actividades musicais colectivas, como coros escolares, estão associadas a maior empatia e menor agressividade entre pares.
– Terapias de grupo com música (incluindo rap, canto e improvisação) mostraram reduzir comportamentos disruptivos e melhorar o bem-estar emocional de adolescentes em contextos vulneráveis.
Boas práticas observadas
Ensaio regular com momentos de partilha emocional
Participação voluntária, mas incentivada pelos professores
Apresentações públicas (na escola e na comunidade) que reforçavam orgulho e pertença
Equipa de professores e educadores sensibilizada para o valor relacional da música
Conclusão: a força da voz em coro
O Coro Infantil da Escola do Bairro Azul não é um caso isolado, mas sim um exemplo inspirador de como a música pode transformar climas escolares.
Quando os alunos aprendem a cantar juntos, aprendem também a escutar, a ajustar-se, a ceder — e a ver o outro com novos olhos.
Num mundo escolar onde o bullying muitas vezes nasce da exclusão, criar espaços de união é, por si só, um acto preventivo.
Porque no fim, talvez não seja apenas uma questão de voz afinada — mas de vozes que se encontram
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